24 de dez. de 2007

Urânia (Fábio Sirino)


Leve-me contigo
Nessa busca inusitada
Na passagem para o nada
Vamos ao desconhecido

Num belo lago azul
Onde sul e norte
Não fazem fronteira
Com os sóis alaranjados
Quais as próximas barreiras
Para um espírito encarnado?

Nesta sinfonia de seres perfeitos
Um lago simboliza
As poucas lágrimas
E acalma o vento
Atrai o tempo
Derretendo o gelo

Busque a vida
Como a própria felicidade
Que tudo não acaba
Com o fim do temor

Que as palavras
Amanhã não se repetirão
Libertando a alma,
De toda ilusão, toda dor
E aquele amor que há no coração


28 de dezembro de 1996.

22 de dez. de 2007

Desconhecida (Fabio Sirino)


Fora da roda
Não comum ao ciclo que eu já conhecia
Ali quieta quase anônima
Como se santa fosse ela
Na zoada que fazia observava eu de canto de olho.
A sua beleza e a paciência ao aguardar...
A filosofia dançava
E se não enxerguei os olhos dela
Assim os imagino
Não azuis ou verdes
Penso neles castanhos ou pretos
Penso que ali o mundo que viaja em cores
Mas tudo era predominantemente branco
Na gira a descer em bênçãos
Antes, no quintal os baques quase surdos.
Hoje, é tudo muito alto,
Num ponto onde a cultura se aflora
Não tenho vergonha da minha macumba
E se a senhora ali quieta deixar
Também apresento minha poesia
Recitada com voz rouca e já cansada
- Pois não canto mais como outrora sonhei
Reservo-me para em eventuais momentos
Soprar cânticos ao pé do ouvido
- E assim faria se perto dela estivesse
Saciar meu curioso desejo
Ouvir a voz e ver as mãos
Saber ao menos o que faz aquela linda moça
Aqui às escuras tudo é especulativo
Solto na medida dos segundos que a imagino
Por vezes despida.
Mas nada tenho
Uma lembrança quase incomoda
Da minha falta de iniciativa
E se algo me serve de lição
Aprendo que na distancia
O sentimento só se faz belo em poesia
Sim sou louco e disso faço pouco
Não me intimido com loucura
Vejo leio loucos como eu o tempo todo
E neles me sinto parte de algo que nem sei se conheço
Mas que me soa familiar
Irei ofertar as flores que minha ausência
Deixou em falta
Para que ela um dia volte
E eu possa simplesmente ouvir sua voz
Tocar suas mãos e olhar no fundo dos olhos que imagino
Sem palavras ou versos
Dançar e beijá-la ao fim da musica
- Sou ousado e sempre quero mais
- Pois no fim de todo artista a sempre um menino
Cheio de vontades e medos
Então conhecerei a menina dela
O que esconde na discrição de sua serenidade
Pois de longe tudo é pura ficção
Entre a áfrica e os orixás
Entre o computador e a estética
O resto é detalhe, adereço ao que vi.
Como se já perdido fosse
Como se não fizesse falta ao todo
Deixo um registro ao mar
Que ele aceite esse escrito meu
Pois dela não tenho o endereço, nem nome.
Ficou apenas sua imagem a me encantar
Em meio aos toques e bênçãos
Da casa de Iemanjá.


5 de dez. de 2007

O Sagrado Sangrando ( Kelly Baêta e Fábio Sirino )




Eu já não quero mais cantar as minhas tristezas
E hoje eu já sei o que significa cada letra da palavra amor
Eu não acredito em nada do que me contam e o que é pior
Eu não acredito no que os meus próprios olhos enxergam
Simplesmente por que você me traz a inspiração de viver

-Hoje eu não quero mais cantar as minhas alegrias
Pois sofri junto para entender o significado das palavras
Que um dia nos amando você me ensinou
E não acredito nas horas que tanto esperei
Para você não chegar e me trazer de volta a alegria de viver

Tudo em mim ainda é agonia intensa
Acho até que nenhum ser humano já sentiu tamanha dor
Mas eu já disse que não quero mais contar tristezas
Porque nossa história de amor é linda e intensa
Igual as minhas dores, as nossas dores e nossas histórias particulares

-Por ti meu eu ainda clama, no fogo, no ar,
No calor que nos trazemos
E só em pensar em não mais aquecer a minha alma
Busco-te mais e te quero mais
Pois a minha verdade é te amar

Juro a ti e imagino quantos poetas loucos como nós
Já exprimiram seus sentimentos em palavras soltas
Palavras que significam algo para nós
E somente nós iremos entender cada verso
E cada ponto que damos para continuar nesse universo

-Então amarro cada lembrança que vivemos juntos
Na esperança de um dia ter de ti o que sempre sonhei
Para viver em vida um sonho que sempre tive
Ao lar, ao ar, voar e conhecer o mundo
Reinventar o que você me ensinou a acreditar acordado

O Engenho Jaraguá, o Teatro Deodoro, O Museu da Imagem e do Som
Os bairros dos nossos sonhos, formosos e benditos
O palco dos teus encantados e escândalos
Os nossos museus que são lembranças e meras expectativas de ser
Imagens e sonhos reais que sentimos em cada centímetro de ser-mos.

-Hoje, já nos permitimos ser assistidos ao escrever
Jornais, matérias, crônicas e anotações despretensiosas
Dançamos, nos encantamos e fomos além
Que o mundo que sonhamos nos permita
Mais um dia, ou mais mil anos sendo felizes

E nenhum de vocês irão entender
Os nossos pecados mais íntimos
Tentem... apenas tentem
Mas não nos imaginem
E estejam preparados para sangrar!




Sem respostas ( Fábio Sirino )





Os dias se seguiram sem notícias
E pelo meu temor
Não tenho certeza de nada
Fico hoje a imaginar-te
Em pseudônimo nem tão secreto
Se meus escritos tolos
Foram lidos ou se quer foram abertos
Na minha insegurança
Esconde em poemas
O desejo de falar-te ao pé do ouvido
Segredos e perguntas
Coisas bem nossas
Ouvir dos teus medos
Saber das tuas loucuras e delícias
Estar perto, nunca colado
Descobrir os furacões que escondes
Nesse olhar leve e misterioso
Mas contento-me em versar-te
Assim anônimo, apenas para te envaidecer
E não temas esses escritos
Pois minha loucura
Não ultrapassa a linha de uma poesia
Já sei do meu lugar a muito tempo
Aprendi a amar assim
Soube diferenciar o que querem de mim
E quem sou de verdade
E nunca fui amado por ser quem sou
Mas sim pelo que represento
E julgam que os poetas são tolos
Julgam erradamente
Mas que não fascina mais a ninguém um poema
Os poemas impressionam os egos
Os poemas exaltam a vaidade de suas musas
Mas nenhuma musa hoje ama seu poeta
Talvez seja o mal do novo mundo
Hoje se ama via cabos de fibras óticas
Faz-se amor com teclados e tela de plasma
Mas e o toque, a conquista?
Quero em alguns momentos ser ao menos quem sou
E se isso for safadeza, que deixem ser
Pois ai do poeta que não for “safado”
Nas palavras, o poder da exaltação, do desejo
Nele, o amor e a paixão como fina flor
E não deixo que meu mau humor das manhas de domingo
Estraguem a madrugada que passei a sonhar contigo
Mas os dias seguem e nessa quarta
Deixo o meu quarto
Só para mandar-te, versos e desejos implícitos
Num eu que ainda se esconde do mundo.

4 de dez. de 2007

Desilusão (Fábio Sirino)



Antes que me mandem calar
Antecipo-me calando
Só, num quarto desarranjado
Vendo na fumaça do meu cigarro
O tamanho da minha vaidade
Quase nu deitado ao chão frio.

Já não ligo a televisão
Tenho vontade apenas de ler e-mails
Tenho vontade é de ler os alheios
Ver a vida do outro e comparar a minha
Só assim me sinto menos infeliz.

Sinto-me menos infeliz
Quando encontro um moribundo
Quando falo com alguém que esta prestes a morrer
Na verdade minha infelicidade se vai
Ao ver a desgraça maior que a minha
A dor maior que a minha.

Se bem...
Que quando eles se vão volto eu a minha dor
A minha desgraça e desamor
Mal amado talvez
Pense de mim o que quiserem
Mesmo assim me repito nos coletivos e esquinas
Meio que a invejar os que sofrem

Então resolvo ajuda-los
Ouvi-los e entende-los
Mesmo estando pior que ontem e melhor que amanha
E nesse ciclo que se repete e perdura minha vida
Preciso de um revolver e uma bala
E principalmente coragem para atirar
Tirar-me a vida
Recomeçar um outro sofrimento talvez
Mas esse talvez me leve a crer
Que isso pode vir a ser melhor
Talvez eu sofra menos
E quando passar pelas esquinas do inferno
Eu já nem olhe mais para os lados
Eu já enxergue apenas o belo.

Mas não! Isso não daria certo
Esse já mais seria eu.

Preciso de algo pra me preocupar
Mulheres que chorem e clamem ajuda
Mas que não se rendam
A minha vontade assim fácil
Gosto das que gritam
E também adoro a conquista.

Sou inteiramente apaixonado pelo ser humano
Complexo e problemático.

Creio ser narcisista e adoro ver no outro
O que sou ou o que quero pra mim.

Assim chego a cada fim de minhas vidas
Regado a um novo amor ou uma nova desilusão

Manhãs de Domingo (Fábio Sirino)


Fazia-se leve
Com ar simpático ao tragar
Um cigarro ou uma e outra palavra
Atrasada na chegada
Ela é precisa na forma
De se mostrar presente
Clareando não apenas o sorriso
Mas todo o ambiente;
A noite ficava mais clara
Transbordando luz em descrição
Sem precisar exaltar-se
Para ter atenção
- Não! Ela não faz charme!
- E eu um desconhecido a observar
Os olhares que a buscavam
Um desconhecido a imaginar
Os seus projetos e medidas
Decorando no exterior cada gesto
- A forma que umedecia os lábios
Á aparente tranqüilidade
- Mas que furacão será que ela esconde?
Como será seu beijo?
- Ao menos sei que ela dança
Compassadamente sexy ao som de "Já"
- Seguimos caminhos opostos
Eu aqui na parte alta da cidade
Acordado a sonhar em versos
Ela ao nível do mar
Dormindo (creio eu) linda;
Talvez a sonhar
Com sacadas de casas e edfícios
Ou quem sabe um príncipe meio bandido
Talvez arquitetando um mundo
Tão belo quanto o jeito dela
Com céu azul bem clarinho
E cores fortes nas flores
E o mar de um azul bem escuro
Mas nada com muita maquiagem
Pois ela parece ver as coisas sem muita fita no olhar
E como é bom não sublimar
As coisas e as pessoas são o que são
A vida flui como num sorriso
Ou numa lágrima
Os momentos são únicos
Como uma boa peça de arte
Detalhes e cores nunca vistos
No mesmo entrelace de imagens
Assim parecia ela nessa noite
Um quadro cheio de entrelace de luz.
- Lá vou eu sublimando...
-Mas como não faze-lo
Se ela a mim não soava comum
Mas sim, sublime
Como a lua, o sol, o mar
As cores do arco- íris
O som de um violão...
- Chegou minha hora
- É manha de Domingo.
Estou sorrindo...!?
- E eu odeio as manhãs dominicais
- Acho que realmente preciso dormir...

2 de dez. de 2007

O brilho de sua timidez (Fabio Sirino)



As estrelas são facilmente confundidas
Com as pessoas mais iluminadas
Pelos holofotes e a amplificação de gritos
Perde-se no vão do infinito da alma
Clara alma guiada pela luz
Longe do meu campo de visão
Se perdem no medo de multidão.
Lá de cima se quer deu pra perceber
Se seus olhos enxergarem
Nossos sons e melodias
Mas ao fim dos tambores
Um sonho de forma frágil
De olhar doce e sempre terno
Chega como se para mostrar-nos
Como se brilha um astro vivo
Pois ela estava lá desde o começo
Ela não se denomina como estrela
Ou luz do sol dos campos
Sem fascinação pelo culto do mito
Desmistificando a customização
Do nosso padrão do comportamento
Do tido com sexy
Do tido com fatal
E ela chega tão fatal quanto sua timidez
Ela entra em sena e se quer tem luz ,
Ela não representa, ela é.
E seu sorriso me confirma
Que ainda temos chance
De dignificar a raça humana
Ou simplesmente ficar mais apaixonado