31 de jul. de 2008

Nossas Guerras (Fábio Sirino)


Chega de incessantes tentativas
Começo a crer apenas no que não escuto
Na falta que faz os carinhos
O que fica em branco e nem lembrado é
Canso e deixo as investidas a outro besta
- Sim, a outro besta como fui -
Que espere tua chegada e saída
O atraso e toda mentira dos dias não dividimos.
Já deixo sepultado meu sentimento
(- Como se possível fosse deixar te amar-)
Meu desejo e meu anseio por teu sexo
De certo uma coisa apenas...
- Na horizontal tudo se encaixava -
Fostes à melhor coisa que já amei
Com olhos tímidos e sacanas
Com voz mansa, já sussurrada
Voamos em discos e contestações
Sobre a veracidade do dia
Da alma e das coisas
Voamos sobre os conceitos de existirmos
Voamos pela moral dos mortais
E cegamos amorais ao Olimpo
Corremos riscos e fomos amigos
Fomos amigos mais que amigos
Fomos amantes mais que amantes
“Formosos e benditos”
Numa maldição de encarnação e reencarnação
A corporal, espiritual, real e irreal
Pesadelo e sonho em movimento
Na praia, no tabuleiro
No carro ou no apartamento
Corremos em meio às diferenças
Encontramos os nossos vazios
Deixamos a poesia e nos esquecemos
Mas quem foi que ganhou no fim do jogo?
Já cansado de brigar contigo e por ti
Quero trégua e cafuné
Não tenho nojo de tua mata
E os teus piolhos, eu cataria todos
Mas cansei de lutar só
De amar só
De estar só e querer só.
Essa guerra santa nunca foi minha
Talvez enquanto queiras vencer
Eu busque apenas empatar
Em música, fotos e poesias
Num pedaço de seu quarto
Que achei ser meu também.
Mas tu não faz parte de meu mundo
Teu universo é tão maior que eu
E moramos em bairros distantes
Eu a andar em estradas coletivas
E tu no conforto das vias particulares
Eu na busca por teus olhares
E tu nem espera minhas súplicas
Quem sabe um dia não descobrimos
Que o disco que vimos nos iluminar
Tenha apenas iniciado um sonho
De quase um ano
Quem sabe não possamos até nos amar mais vezes
E até sermos felizes como desejamos
Quem sabe até ficaremos juntos
Ou até mesmo separados
Quem sabe?

24 de jul. de 2008

A Hora de Rezar (Fábi Sirino)


Rezo em noite alta
Sonho adentro aos medos que aprendi
Busco em vão e vem à tona
As súplicas dos outros iguais
Em suspiros anônimos
Passos estreitos a um caminho largo
Quem menos conheço me traz mais segurança
E nos coletivos uma e outra até me olham
Mas não me enxergam
Não sabem mais que minhas medidas
Não sabe mais que a cor das minhas vestes
Aqui tudo é tão mais obscuro
Que mesmo no azul claro do mar
Escondem-se mistérios nus
De todas as lagoas e rios
Se bem que não sou amante da natureza
Nem um vegetariano tido a puro
Gosto de sangue luxuria e carne
De boi, vaca, galinha, galos e até peixes.
Como homens e mulheres
Assimilo em mim
Todos os sabores que me fazem mal
Sem dar a mínima para um futuro incerto
Sou mais amor, sou mais momentos
Sou mais um em tantos que já fui
E não me dou por terminado
Serei mais e mais ainda se preciso for
Talvez feliz quem sabe?
Rezo em noite alta sim
Falo com Deus e nem sei se ele me escuta
Mas falo como se ele fosse meu analista
E cobrasse caro por isso...
Quem sabe um dia alguém me pague
Ou quem sabe não assimile
O desabafo louco dos adolescentes americanos
E saia com uma metralhadora no meio do shopping
Rasgando vidas e matando papais
Ou quem sabe apenas faça diferente
E lá mesmo na praça da alimentação
Abrace os emos para chorar com eles
Beijar os seguranças e deitar no chão limpo
(-Aparentemente limpo-)
Ali deitado talvez descubra
Que minhas preces nas madrugadas
E minha vontade de falar com Deus
Sejam tão solitária quanto as loucuras
Dos extremistas mulçumanos
Assim também me sinta um homem bomba
Mais perto do céu
Com a pressão em vinte e três por catorze
Com o corpo cansado
E a mente prestes pifar
Desatualizada, sem antivírus
Quem me entende?
Quem me vê alem de vestes e medidas?
Sei apenas que esta bem tarde
E já passou da hora de rezar...

3 de jul. de 2008

A verdadeira Luz (Fabio Sirino)



Na vida não há culpados
Não têm vilões e heróis
Na vida, tem muitas outras vidas
E nelas outras e nas outras várias verdades
A cada vida uma verdade
Toda contestação de cada verdade é uma violência
Se ela tem como eixo sua alma
Mesmo vivendo uma mentira
Peço eu
- Respeitem-na!-
Pois se uma mentira tem alma
Ela tem seu fundo de verdade
Como nas flores murchas
Que achastes belas
Como numa tarde num café
Como em poesias de versos repetidos
Como num sorriso sincero com alface no dente
(essa é ótima)
Não foi mentira o pouco que tivemos
Mas há mais distancia
Em caminhos que não percorremos
Que nas estradas que nos levam ao cotidiano
-Ah! como sinto falta de teu riso... -
E não levo de ti apenas lembranças
Levo de ti um sentimento
Puro e belo que não desejo sentir mais
(Pois dói conjugar o amor)
Um puro e belo desejo carnal
Em pele, fogo e poesia
Lamento pelos dias que se seguem
Sem ter sentido teu gosto de calmaria
Em minha ânsia de furacão
Lamento a não reciprocidade
Dos teus sonhos e desejos
Enquanto fico acordado
A pensar-te em divinos pecados
Na liturgia da carne em busca do prazer
E essa é minha verdade
De desejar a mulher que és.

Loucura (Renata Orlandi)


Vou agindo na insanidade
Na vontade de acertar
Sem muita certeza de meus passos continuo a caminhar
Nessa estrada de passos incertos
Mas de certezas momentâneas

Vou agindo com um misto de cabeça e coração
(Nessa altura nem sei quem eles são...)
Os resultados saberei amanhã
Aparentemente mutáveis, mas inesquecíveis
Atropelando acordos, acertos, medidas.
Tanta coisa num só dia que na verdade foram dois
Coisa normal em minha vida que vivo noite, madrugada e solidão
E quando pego nas palavras vou falando sem parar

Mas a Loucura, essa hoje me pegou!
Acordei assim e dormirei não sei como
Se acertados foram meus passos
Mais uma vez, não sei não
Seguirei agora esse caminho
Até o momento que possa até mesmo retroceder
Sem ganhar de volta os minutos
Posso voltar ao antigo
Ou vou por esse mesmo
Até que outro surto de loucura
Me encontre e questione minhas posições

Mais um ataque de loucura
Mais um dia sem frescuras
Mais um emaranhado de idéias
Que ao se desenrolarem se entrelaçam,
Mais um dia que acordei assim e vou durmo não sei como

Além das Discrições dos Tons (Fabio Sirino)

Sim! Eu sou muito sincero
- Mas não pela hostilidade
Que os dias trazem ao nosso olhar
- E sim, pela força da beleza que enxergo em ti
Antes de tua mão apresentar-me a tua alma
Já via em teus olhos uma cor que não era o verde
Ia além das discrições de tons e luzes
Ia além da própria capacidade de ver

E não tenho a pretensão de preencher
O vazio da presença masculina em tua vida
Tão pouco acredito que meus poemas
Possam aliviar as tensões do teu dia
- Quem sou para ousar tanto...-

Mas quando a ti avistei
Tive a nítida duvida
Da minha então felicidade
Pois como poderia ser feliz
Se ainda não havia conhecido
Tamanha beleza e simplicidade

Encanto a primeira vista
Mas nunca ousei abrir
Como faço em versos
O peito que mesmo sem saber
Tu invadiste, rasgando meus medos
Ali, no meio da feira.
Julgo-me então
Um covarde que escreve bravuras
- Como se não fosse fácil fazê-lo em poesia

E hoje lendo tuas mensagens
Vejo que temes como eu
E recua como eu
Mas em âmbito bem mais amplo

Não se sinta culpada por desnudar as almas
Com olhos que já desnudam o sol
Pois isso talvez seja tua maior virtude
De descobrir o outro e mesmo vendo-o como é
Encanta-se e apaixona-se
Isso sim é ter ousadia

Rendo-me aos meus erros
Deixo que o tremor que me vem as mãos
Tome o corpo e a poesia que faço a te
Talvez não saibas de mim mais que meus elogios
(sempre me repito nisso)
Talvez nunca saiba mais de mim que sabes hoje (nada)
Mas de te sei o suficiente
Que tens o dom de me fazeres bem
E mesmo distante sinto tua paz via net
Hoje ao menos ouso como um louco
E digo sem medo a ti plagiando outros
- Tu es divina e graciosa
- Hoje sempre amém...